terça-feira, 7 de junho de 2011

O MODO GAY INVISIBLE

            Uma coisa que só existe entre os gays é a possibilidade de se camuflar, é o que eu chamo aqui de “modo gay invisible”. Velhos não podem esconder que são velhos, por mais botox que apliquem, negros não podem esconder que são negros – com exceção do Michael Jackson e por aí vão todas as minorias, que no final, se somadas são a maioria: que mundo doido né?

            Na pesquisa do Mckinsey, o grande sexólogo americano, ele apontava que 10% da população era gay. Pesquisas mais recentes apontam para 7% ou 8% da população. É difícil confiar nessas pesquisas, porque cá entre nós, é como no caso do “ex-gay” ou do hétero que “vira” gay – como provar que o cara dá ou não dá a bunda na cama e que está gostando do que está fazendo?
           
O mesmo Mckinsey criou uma escala da sexualidade, que é um pouco mais coerente que pesquisas que não levam em conta o fator “enrustido” – em  pesquisas comportamentais, digamos assim, o erro de margem pode ser qualquer um!

            Bom, essa escala Mckinsey aponta a diversidade sexual partindo do totalmente heterossexual passando pelo relativamente heterossexual – o que explica os T-lovers, os caras que comem travestis e transexuais e juram de pés juntos que são héteros – até os totalmente gays. 
           
Mas o que aconteceria se os gays nascessem azuis? Eu não sei onde ouvi essa teoria, mas quem for o autor, pelo amor de Deus me mande um e-mail, porque é sensacional! Se o modo gay invisible não existisse? Se as pessoas soubessem que somos gays desde que nascemos, isso diminuiria o preconceito?

            Eu sou do tipo super discreto, o enrustidinho. Ao ponto de existirem heterossexuais que conseguem ser mais gays do que eu! Tipo, eu nunca fiz luzes loiras no cabelo! (Nooossa!!!) E isso é, tipo assim, muito revoltante! Por isso, a maioria dos meus amigos (2 contra 1) são heterossexuais: não gosto de saber que existem caras mais viados do que eu! Por que? Porque te leva a conclusão de que todo o tempo em que você foi o comportadinho, foi um tempo em vão. E confesso: isso dói no fundo da alma psicanalítica.

            Se você perguntar para qualquer gay se é mais fácil ser um travesti ou um gay discreto, todos vão querer se casar com a segunda opção. Tem aquele cara, autor do livro “O Armário”, que chama isso de preconceito 'internalizado' – quando nós mesmos não nos aceitamos. Quando categorizamos níveis de adequação do comportamento gay: que começam no topo com os gays vegetais eunucos das novelas da Globo até a dita sarjeta hierárquica social com as drag queens e papais de couro. Como se já não bastasse a rixa entre os gays e os nazistas, imagine se discretos e travecos entram no ringue para a porrada? Animais do zoológico, unam-te! Somos tão especiais por isso: somos a diversidade dentro da diversidade! Promessa de ano-novo para mim (e para você também, se estiver sofrendo desse mal que é o preconceito internalizado!): fazer novos amigos mais gays do que eu (ou você) e largar de vez esse estigma do “enrustidinho versus aloka”.
           
Mas eu posso dizer para vocês que como o gayzinho bem-comportado também sofri preconceito. Nunca levei predada, nem ando com canivete na bolsa, mas tenho depoimento e quero dar! E, a-há, vou dar! (Perceberam a piada com o “dar”? Meu amigo diz que se a gente tem que explicar a piada, é porque ela não é boa... Merda!)

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